quarta-feira, 19 de outubro de 2011

RECORDANDO O ABALROAMENTO DO ARRASTÃO "ALVOR" pelo "BARBARA BARATA" NO PORTO DE LISBOA EM 1953, ACABANDO O PRIMEIRO POR FICAR SEMI-SUBMERSO

O ALVOR fundeado diante das instalações do seu armador, Olho de Boi, Cacilhas / foto CPP, colecção Nuno Bartolomeu, de Almada /.

BARBARA BARATA / autor desconhecido - colecção Nuno Bartolomeu, de Almada /.

A 31/03/1953, próximo do Frigorífico de Santos, onde habitualmente acostavam os navios de pesca chegados dos pesqueiros do Cabo Branco, ocorreu um abalroamento entre o arrastão BARBARA BARATA, que estava em manobras de atracação, e o ALVOR, que se encontrava acostado á muralha. Este arrastão a vapor sofreu um rombo à ré, na linha de água, pelo que adornou a bombordo. Fazendo então muita água, ficou meio submerso com a casa das máquinas alagada, e só não se afundou rapidamente em virtude de os cabos que o prendiam à muralha não se terem quebrado.
Quatro tripulantes que se encontravam na amurada da embarcação gritaram, e os restantes camaradas, que nos seus afazeres estavam no interior da embarcação em número de 23, ainda tiveram tempo de saltar para o cais.
O BARBARA BARATA, que era uma unidade bastante moderna, construída em 1948, nos estaleiros da C.U.F., ali mesmo ao lado, era comandado pelo capitão João Coruja, considerado um oficial muito competente e experimentado. Naquele dia, ao entrar na doca, fê-lo com a usual perícia, e ia a atracar com perfeição à muralha. A dada altura, porém a máquina não engrenou de marcha à ré, por qualquer motivo que se desconhece, e por mais esforços empregados, não só pelo comandante, como pela restante tripulação, não foi possível evitar que a proa do BARBARA BARATA fosse embater com violência no velho ALVOR.
Quando o ALVOR adornou, o mastro de vante foi de encontro ao edifício do depósito de gelo, fazendo abrir a plativanda do primeiro andar. O ALVOR fora construído em 1920 e era comandado pelo capitão José Santos Júnior, e pertencia à CPP - Companhia Portuguesa de Pesca, de Lisboa. O BARBOSA BARATA era propriedade da firma Basílio Santos, Lda., de Lisboa, e acabara de chegar dos pesqueiros do Cabo Branco com 95 toneladas de peixe. Ambas as embarcações estavam seguras na Mutua dos Armadores da pesca do Arrasto.
Conseguiu-se ainda salvar do navio afundado roupa e haveres de parte da sua equipagem e que se conseguiu retirar de bordo por intermédio dos Sapadores Bombeiros. Estes não tiveram qualquer hipótese de esgotar a água visto ser em grande quantidade.
Os rebocadores CABO ESPICHEL e CABO DE SINES ficaram contratados para proceder aos trabalhos de reflutuação do arrastão acidentado, o que certamente deve ter sido difícil e moroso, mas o certo é que mais tarde foi posto a flutuar e regressou às fainas pesqueiras do Cabo Branco e ainda hoje existe depois de transformado numa moderníssima embarcação pesqueira. O ALVOR ainda tinha por descarregar 39 tons de peixe, e havia chegado há dois dias.




/ Imprensa - colecção Nuno Bartolomeu, de Almada /.


/ Imprensa diária Portuense - colecção de Rui Amaro /.


O BARBARA BARATA ainda em contrucção na dique da C.U.F. / autor desconhecido - colecção Nuno Bartolomeu, de Almada /.

O BARBARA BARATA entra pela primeira vez nas águas do estuário do Tejo /autor desconhecido - coleção Nuno Bartolomeu, de Almada /.

ALVOR – vapor de pesca por arrasto, imo 5013234/ cff 44,7m/ cpp 42,7m/ boca 7,32m/ pontal 4,63m/ 339tb/126,4tl/ máquina tríplice expansão vertical a vapor sobreaquecido/ potencia 600HP/ vel. 10mn, cruzeiro 9,5mn/ consumo dia 7tons/ paióis capacidade 188tons/ porão capacidade 214m3/ leme manual/ molinete a vapor/ 1 guincho a vapor/ sonda ultra sonora/ 1 rádio TSF/ 2 baleeiras, 22 tripulantes; 03/1919 lançado à água; 10/1920 entregue pelo estaleiro Cochrane & Sons, Ltd., Selby, como EQUITABLE a Equitable Steam Fishing Co., Ltd., Grimsby; 1923 GLAUCO, Nacional de Pescas, ??; 1925 ALVOR, CPP - Companhia Portuguesa de Pescas, Lisbon, que o empregou nos pesqueiros do Cabo Branco, Marrocos/Mauritânia; __/____ ALVOR (L-2-N), Pescaria do Alvor, Lda., Lisboa, que o registou na praça de Leixões, tendo o seu porte sido aumentado para 51,9m/423tb, e o reconstruir de um obsoleto e antigo vapor de arrasto numa moderníssima unidade de pesca "long liner", possivelmente aproveitando o alvará, realizou um verdadeiro "milagre".
BARBARA BARATA – navio-motor de pesca por arrasto, imo 5036389/ cff 45,3m/ cpp 40,8m/ boca 8m/ 354tb/ 322pm/ 11nós/ 08/1948 entregue pelo estaleiro da Companhia União Fabril, Lisboa, a Basílio Santos., Lda., Lisboa, que colocou nos pesqueiros do Cabo Branco, Marrococ/Mauritânia;
1973 CAPITÃO BARRETO, ??; 26/06/1974 colidiu com engenho flutuante desconhecido e afundou-se perto da costa Marroquina, posição 36,55N/10,08W.
Fontes: Imprensa diária, Miramar Ship Index, Nuno Bartolomeu, Galway Ships.
Rui Amaro

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